Menu
LISBOA
__Quem conhece o tecido empresarial português, sabe que ele é pouco propenso a Inovação. Para muitos empresários a Inovação é encarada como um luxo desnecessário. Durante décadas a vantagem competitiva da economia portuguesa assentou numa mão-de-obra barata e pouco qualificada. Os produtos exportados tinham pouco valor acrescentado incorporado, normalmente, o valor acrescentado era apropriado por outros agentes económicos.
Perante, a alteração do paradigma económico internacional, os produtos portugueses foram perdendo quota de mercado, a favor, dos países asiáticos e da Europa do leste. Naturalmente, Portugal experimentou uma dose violenta de falências. Infelizmente, como sempre aconteceu em Portugal, não existiu capacidade de antecipação, o país viveu sempre sob a filosofia do facto consumado. Dificuldades de Portugal: antecipar, planear e implementar. Convenhamos, de preferência com rapidez. Segundo, o meu ponto de vista, existe uma outra lacuna que contribui para esta realidade, o divórcio que existe entre a Universidade e a Sociedade. Supostamente, as Universidades deveriam ser lugares de saber, onde precisamente, a Inovação deveria de acontecer em benefício da Sociedade, mais concretamente, das empresas e dos cidadãos. No entanto, em Portugal assistimos a uma incipiente articulação das Universidades com o mundo empresarial. Talvez, porque as Universidades portuguesas ainda são um mundo feudal. Seria importante que o conhecimento produzido nas Universidades, ao nível da Investigação, chegasse as empresas com o intuito de poderem produzir novos produtos/serviços ou melhorarem as suas formas de produção, incorporando mais Tecnologia e Inovação. Deveriam existir pólos de desenvolvimento empresarial em estricta colaboração com as Universidades e as Instituições que se dedicam a Investigação e a Inovação, em prol, das empresas portuguesas, com o intuito de potenciar a competitividade das nossas empresas. Aliás, todo este fenómeno de Investigação, Inovação e Tecnologia deveria estar associado a um forte espírito de empreendedorismo que permitisse o surgimento de um número cada vez maior de novas empresas de ponta. Nem todos os projectos terão sucesso, mas o capital de competências que se desenvolve conjuntamente com a experiência acumulada serão úteis para o desenvolvimento de novos projectos e incrementar o espírito empreendedor que Portugal tanto necessita. Miguel Amaral
2 Comments
O movimento dos indignados propagou-se por todo o mundo e Portugal também se indignou, a multidão foi as ruas manifestar o seu desagrado pela situação actual e futura do país. As medidas de ajustamento apresentadas pelo Governo são de uma forte violência, sobretudo, para as famílias. É previsível, perante, uma tão drástica redução do rendimento disponível, exista uma forte contracção no consumo, que por sua vez obrigará empresários a rever as suas expectativas, reduzindo os seus níveis de produção até absorver o excesso de capacidade instalada. Portanto, a recessão será totalmente inevitável, aliás, já vivemos em recessão, o que causa apreensão, é a profundidade e a dimensão da recessão.
Uma recessão demasiada pronunciada terá inevitavelmente consequências sociais, não acredito em manifestações violentas, tal como se verificaram em Atenas ou Roma, penso ser mais plausível, cenários de greve, que irão paralisar o país. Convém, não esquecer, que não foi assim, há tanto tempo, os transportadores paralisaram o país, puseram em causa o fornecimento de combustíveis e colocaram o Governo de então contra as cordas. Penso que cenários desta natureza, serão os mais plausíveis, no entanto, se as condições sociais se degradarem muito, pode existir um levantamento popular, principalmente, se a onda de criminalidade e impunidade dispararem abruptamente. Numa primeira impressão, o OE – 2012 é um documento duro, um documento de sacrificados, porque apesar de considerar os cortes necessários, não se vislumbra no OE medidas de reformulação do Estado, não existe um ímpetu reformista neste Governo, portanto, se os cortes anunciados tiverem um carácter apenas temporal, é provável, que dentro de alguns anos voltaremos a estar na mesma situação deficitária, que nos conduziu até esta situação. O Governo até agora apenas optou pelo caminho mais cómodo mas também o mais perigoso e com mais custos. Penso que, o mais sensato, seria definitivamente, abraçar de uma vez por todas, a racionalização da despesa, realizar as reformas estruturais que se impõe para resolver de uma vez os desequilíbrios portugueses, do que andar neste sistemático arrastar de medidas, que apenas irão saturar as pessoas. É preciso ter coragem para despir a verdade mas também ímpetu para tomar todas as medidas que se requerem, não pode ser apenas uma parte da população a pagar a factura, é fundamental, a existência de equidade na distribuição dos sacrifícios. Somente, assim, se poderá assegurar, que o contrato social não será quebrado e nem o esforço será em vão. Miguel Amaral As sementes do descalabro económico e social português foram plantadas no período entre 1995-2000, na segunda metade da década de 90, o país conheceu um crescimento económico médio de 4%. Um valor impressionante, no entanto, a partir de 2000, o PIB português entra numa trajectória descendente, culminando com recessão e estagnação (crescimentos muito baixos que não vão além de 1%). O sintoma mais notório do definhamento português encontra-se expresso na taxa de desemprego, em 2000 não ía além dos 4% e hoje supera os 2 dígitos.
O forte período de expansão de 1995-2000 gerou grandes desequilíbrios económicos, nomeadamente, inflação e deficit externo. As consequências na economia portuguesa foi a geração de um brutal deficit público, porque os responsáveis políticos não foram capazes de racionalizar a despesa, portanto, Portugal assistiu a um brutal crescimento do gasto público que não foi acompanhado pelo aumento da receita fiscal porque o ciclo económico começou a entrar numa fase descendente. Não podemos esquecer que Portugal desde 2000 incumpriu reiteradamente até os dias de hoje o PEC, porque sempre insistiu numa consolidação fiscal pelo lado da receita, quando o correcto é optar pelo lado da despesa porque a receita tem apenas um efeito de conjuntura ou sazonal, enquanto, a despesa implica adopção de reformas ou medidas estruturantes. Por isso, não deveria surpreender após mais de uma década os portugueses ainda se debatem com a eterna questão do deficit. O drama português começa a compreender-se melhor, se pensarmos, que esta inacção ou ineficiência tem consequências internas, nomeadamente, a desaceleração da procura interna, a quebra no consumo e no investimento, portanto, um silencioso quebrar da economia. Repare, a economia tem quatro alavancas, o consumo (retracção), o investimento (retracção), o gasto público (expansão) e a balança de pagamentos (retracção). Consequência, uma década de recessões e uma longa estagnação económica. Mas porque razão isto acontece? Se notarmos, a divergência portuguesa inicia-se em 2000 com a adesão a moeda única, o país, desde então, conhece uma média de crescimento inferior a 1%, enquanto os seus parceiros crescem a uma média ligeiramente superior a 2%, porquê? O país perdeu a sua política monetária, portanto, já não pode desvalorizar a sua moeda, ou seja, realizar desvalorizações competitivas para estimular as suas exportações e conter as importações (o Euro é o reflexo do Marco Alemão, por natureza, uma moeda forte), a única alternativa teria sido realizar uma forte contenção salarial desde 2000 ou então nos dias de hoje realizar uma forte desvalorização salarial. A maior evidência, é o facto, de Portugal ser o país da Zona Euro que mais competitividade perdeu nesta última década; a perda de competitividade está expressa no facto de Portugal ter sofrido o maior acréscimo do custo laboral por unidade produzida (aproximadamente 30%), por outro lado, o próprio modelo económico português ficou desajustado, porque agora existem países que produzem os mesmos produtos de forma mais barata, mais rápida e com mais qualidade. O modelo de trabalho intensivo, de mão-de-obra pouco qualificada, de produtos de baixo valor acrescentado já não é viável para Portugal, principalmente, devido ao emergir dos país Asiáticos e dos países da Europa do Leste. Foi com naturalidade que as exportações portuguesas perderam quota de mercado. O mais lamentável é pensar que Portugal recebeu uma quantidade indigente de dinheiro dos parceiros europeus para proceder a reconversão do seu modelo económico, mais vocacionado para produtos tecnológicos e de valor acrescentado, e aquilo, que assistimos é que este dinheiro foi utilizado para outras coisas, talvez, para comprar Mercedes, BMW e Audi's. Ao nível do Estado, estamos a assistir a sua desagregação, um país sob a intervenção de uma Entidade Externa, porque os sucessivos responsáveis políticos não tiveram noção das suas responsabilidades, o caso, mais flagrante, é da Madeira, obras supérfluas, que não acrescentam nada, que apenas serviram para aumentar o endividamento do país. O caso da Madeira apenas ilustra e retrata o que se passou em Portugal, põem em evidência à todos os portugueses, o país endividou-se ao ponto, da sua dívida ficar insustentável e por essa razão temos a Troika em Portugal, caso contrário, o país já não tinha dinheiro para pagar salários e pensões. No fundo, vivemos por cima das nossas possibilidades, com recurso à crédito, gastamos muito mais do que a riqueza que geramos, e apenas, existem dois caminhos: trabalhamos mais para manter o nosso nível de vida e, além disso, pagar as nossas dívidas, ou seja, somos capazes de fomentar o crescimento económico. Ou então, temos que ajustar o nosso padrão de vida, a nossa nova realidade, cortar gastos, fazer poupança e tentar devolver a dívida. Chegou o momento de pôr fim a Fantasia, a bem do país, façamos-lo com dignidade. Miguel Amaral Conhecer uma pessoa requer sempre tempo, um bem escasso. Por analogia costumo pensar que conhecer uma pessoa é como conhecer uma acção cotada em Bolsa. É preciso tempo para analisar as Demonstrações Financeiras e os Relatórios de Contas. A análise fundamental requer um profundo trabalho, a titulo de exemplo, saber ler e interpretar bem as Demonstrações, comparar resultados com o passado, com a indústria, com os competidores, construir uma base para fazer projecções futuras. O mesmo acontece em relação as pessoas, conhecer uma pessoa requer tempo, analisar o seu passado, os seus logros, comparar com outras pessoas, tudo para ter uma hipotética noção das suas possíveis virtudes e defeitos. O problema é sempre o mesmo, a falta de tempo, nem sempre é possível fazer uma análise exaustiva sobre uma pessoa porque requer tempo.
Para ter uma apreciação mais rápida sobre o comportamento de uma acção, recorre-se a análise técnica, que estuda a evolução dos preços das acções, basicamente, analisa tendências, está atenta as inflexões nos preços, porque podem ser reveladoras de novas tendências nos preços. O mesmo acontece com as pessoas, não temos tempo para conhecê-las, o tempo é escasso, talvez, por isso, é importante estar atento aos detalhes, os detalhes podem ser reveladores de tendências futuras ou de intenções não declaradas, tal como, acontece com as inflexões nos preços das acções. O leitor que estiver a ler estas palavras estará provavelmente, a questionar-se, mas o que é que isto tem haver com Passos Coelho? Talvez muito, talvez nada. Mas para a maioria de nós será extremamente dificil conhecer a pessoa Passos Coelho, mas poderemos estar atentos aos detalhes, neste momento, lembro-me de dois. O primeiro foi quando defendeu em campanha eleitoral a Austeridade do Estado e depois num encontro com Angela Merkel defendeu que Portugal iria muito além da Troika com o recurso a um aumento de impostos. O segundo detalhe foi defender para consumo interno as Eurobonds e na presença da Angela Merkel defender o contrário. Existe uma grande dualidade e uma enorme ambiguidade em muitas posições de Passos Coelho, o que gera volatilidade e incerteza, o resultado ou a consequência, é apenas uma, ainda não chegamos aos 100 dias de Governo e o Capital Político começa a estar esgotado, tal como, na Bolsa, penso que Passos Coelho entrou numa tendência Bear e a recomendação é: Venda. Miguel Amaral Vários economistas conceituados, apontam para uma possível e eminente grande recessão à nível mundial, posteriormente, acompanhada por um longuíssimo período de estagnação económica. Em Portugal, o efeito será muito mais profundo, mais demorado e mais doloroso. Não é por acaso, nestes últimos anos, o recurso à consulta externa de psiquiatria dos Hospitais Portugueses com esta especialidade e o respectivo acompanhamento clínico aumentaram. Por inerência, o consumo de anti-depressivos e ansiolíticos também aumentou. Há dados que apontam para um aumento preocupante.
Confesso a minha ignorância, não faço ideia do peso da comparticipação do Estado, nestes medicamentos, não faço ideia se são caros ou baratos, mas tenho a certeza que muita gente não pode viver sem eles. A premissa do Estado, segundo a Troika, deveria ser cortar despesa, portanto será natural, a comparticipação destes medicamentos ser reduzida, logo, acabem por ficar mais caros para o utente. Provavelmente, o recurso será à prescrição dos genéricos. Perante, um corte cego na saúde, penso que muitas pessoas terão bastantes dificuldades para continuar com os seus tratamentos e acabarão inevitavelmente por os abandonar. Talvez, na demência encontraremos uma sociedade mais lúcida. No entanto, com todas estas noticias, sobre um cenário de excesso de despesa no sector da Saúde (ou despesa descontrolada), houve uma noticia que chamou, em particular, a minha atenção, um conjunto de psiquiatras portugueses advogavam o recurso ao choque eléctrico para o tratamento dos transtornos de ansiedade e depressão (em principio, os casos mais graves). Pelo que percebi, a descarga seria efectuada em meio hospitalar, com a categoria de acto cirúrgico, mas em regime ambulatório, o tratamento (a descarga) tinha a virtude de aliviar, acalmar e estimular animicamente o paciente. Fiquei a cogitar, se este acto médico pode ser efectuado em regime ambulatório, porque razão não fazer um apelo ao espírito empreendedor português e inventar uma máquina que permita fazer as descargas a partir do conforto de casa? Sempre que existir um indicio de ansiedade ou depressão, liga-se a cabeça à tomada eléctrica lá de casa, aumenta-se o consumo de electricidade, contribui-se para aumentar os lucros da EDP, logo, os prémios dos seus gestores, pois mais de metade do país está em depressão ou sofre de ansiedade. Mas o circulo virtuoso, não fica por aqui, regista-se a patente do aparelho, aumentamos as exportações do país (porque no mundo não faltam depressivos e ansiosos), equilibramos as contas públicas, a economia volta a crescer, existe pleno emprego, voltamos a ser felizes e a nossa sociedade volta a ser idílica. Ainda por cima, com a despesa do sector da Saúde controlada. Miguel Amaral Creio que seria importante tentar compreender porque razão Portugal chegou até esta situação crítica, talvez, o primeiro passo seria enumerar algumas variáveis que contribuíram para o nosso descalabro, passo a citar:
1.) Deficit público; 2.) Deficit externo; 3.) Elevada Inflação; 4.) Baixo Crescimento Económico. Na última década e meia a inflação portuguesa foi sempre superior a média da União Europeia (UE). Isto significa que Portugal teve perdas maciças de competitividade, nomeadamente, desde da última desvalorização do escudo em 1995. Isto significa algo muito simples, Portugal iniciou um processo de divergência em relação aos seus parceiros europeus. Portugal caracterizou-se por uma falta de visão tremenda, quando se exigia rigor orçamental, o país embriagou-se com deficits públicos excessivos, não sustentáveis com a realidade do país, estes deficits públicos corresponderam a uma política fiscal expansionista, algo que, contribuiu para gerar pressões inflacionarias. É preciso ter consciência, que enquanto nós divergimos, outros países convergiram, foram melhores do que nós, trabalharam melhor, foram mais conscientes, foram mais responsáveis, resultado, cresceram mais do que nós e mais rápido. Porque razão isso aconteceu? Porque Portugal não fez as reformas necessárias em tempo oportuno, perdeu o timing, o sentido da oportunidade, além disso, expandiu excessivamente o gasto público em vez de racionalizar a despesa, aumentou o seu endividamento e caracterizou-se por uma feroz resistência em reduzir o seu deficit. A nossa opção de política fiscal, foi o nosso massacre enquanto país. O nosso drama, é verdadeiramente trágico, porque sem politica monetária própria, nem política cambial, aumentar a competitividade da nossa economia e alcançar o equilíbrio externo, apenas é possível através da estabilidade dos preços. Para alcançar a estabilidade dos preços é necessário que a nossa economia alcance um superavit fiscal. Vai ser necessário, uma grande dose de esforço, traduzidas por verdadeiras reformas estruturais, maior incentivo a concorrência e o recurso a politicas fiscais restritivas. Aquilo que deveríamos ter feito em 15 anos, vai ter que ser feito agora, num curto espaço de tempo. Questiono-me, será que ainda vamos a tempo de sair do abismo? Miguel Amaral Portugal acaba de ser vítima do assédio da Moddy's que deixou o país em Topless em plena Antártida. Curiosamente, as revisões do Rating ocorrem sempre nas vésperas de alguma Emissão de Dívida, é a contracção necessária, para os Bond Traders de Wall Street surfarem na violência das ondas. Uma adrenalina viciante para estes experimentados surfistas, que com expectativa aguardam os resultados dos stress test's da Banca Europeia para mais uma violenta surfada nas nossas ondas.
Mas para que seja possível uma inesquecível surfada nas ondas, é necessário, que as condições climatéricas estejam reunidas para permitir o violento emergir do mar, no caso, de Portugal as condições que poderíamos enumerar, seriam as seguintes: a) Ausência de Perspectivas de Crescimento Económico Futuro; b) Ausência de Tecido Produtivo para sustentar Exportações e a Produção Nacional; c) Acentuar do efeito recessivo, com a reducção do rendimento disponível dos agentes económicos e a consequente contracção do consumo privado; d) Excesso de endividamento e o consequente desalavancamento, traduzido nos crónicos deficits primários e no deficit externo. e) Por fim, o acentuar da dificuldade do Governo em cumprir o Programa da Troika, com a resistência do Estado à austeridade e o recurso cada vez mais frequente ao expediente de aumentar impostos. Consequência, agravamento da recessão portuguesa. É uma realidade que existe, é a nossa, não foi criada pelas agências de rating, fomos nós com os nossos hábitos e vícios, tivemos uma oportunidade para sermos um país melhor, mas por alguma razão foi desperdiçada. Essencialmente, devido a Má Governação do País e todos os obstacúlos que existem na sociedade portuguesa que permitem a subsistência da Má Governação. Portugal, é o exemplo, mais Paradigmático da Cultura do Desperdicio. Hoje, agora, não vale a pena entrar em pânico, nem ser fanático da cegueira. Hoje, agora, á única coisa que nos resta, é traçar o melhor caminho possivel com o uso da nossa razão, embora passível de erro, seguir esse caminho com todas as nossas forças. Miguel Amaral Portugal votou pela mudança, o país adoptou o verbo mudar. Nas ruas já se respirava um fim de ciclo, reforçado pelas expressões faciais dos anónimos que entregavam a sua sentença nas mesas de voto. Não havia resignação, apenas um sentimento de liberação e silêncio interior. Liberação e silêncio, dois sentimentos simultaneamente efémeros, uma inconsciência embriagadora do amanhã que se aproxima. O principio da incerteza que tanto amamos, as nuvens esculpidas de granito e que cospem pedras, dilacerando o futuro, amputando vidas, matando todos os sonhos.
Apesar de acreditar na boa vontade das pessoas de bem, sobre este manto apenas existirá a mais fria escuridão. Será uma terra estéril de gente cavernosa com medo da própria sombra e sem força para lutar contra algo que os transcende. Pobre lastima de país que não sabe reconhecer a luz, que perdeu a sua infância e mata a sua juventude. Bebe com orgulhosa altivez o cálice da velhice, repleto de senilidade e desprovido de qualquer sabedoria, agarrado aos seus velhos fantasmas, idolatrando com máxima nostalgia as suas antigas glórias, com uma vã esperança de ressuscitar o passado e enterrar o futuro. Brindemos todos do mesmo cálice repleto de veneno, daquela garrafa religiosamente guardada no sepulcro, com aquele rótulo quase gasto mas ainda legível aos nossos olhos, do orgulhosamente sós. Mas ainda existe esperança, mas somente para aqueles que tiveram o atrevimento e a audácia de abandonar a caverna, porque tão selecta colheita apenas está confinada ao mais restrito paladar nacional. Miguel Amaral Assisti ao último debate político entre Engº Sócrates vs Dr. Passos Coelho com bastante interesse e expectativa. Apesar do debate ter sido interessante, fiquei ligeiramente desapontado, pois considero que foi muito vazio, praticamente, não se discutiram ideias, foi uma repartição de responsabilidades, de culpas e uma subtil caça as contradições.
O Engº Sócrates surpreendeu-me, esperava uma atitude mais agressiva e demolidora, pensava que ia arrasar com o Dr. Passos Coelho, no entanto, a posição do Engº Sócrates foi mais subtil, veio com um bisturi para dar o golpe cirúrgico no Dr. Passos Coelho. Quase ia conseguindo quando leu o relatório e contas da empresa em que o Dr. Passos Coelho foi administrador. O Dr. Passos Coelho demorou a reagir, mas não perdeu a firmeza perante o delicado e documentado ataque do Engº Sócrates. O Dr. Passos Coelho foi crescendo durante o debate, enquanto, o Engº Sócrates minguava, o curioso, é que ninguém explorou as maiores fragilidades do seu adversário e tentou pô-las em evidência. O Dr. Passos Coelho não pôs em evidência a indisponibilidade do Engº Sócrates para Governar com a presença do FMI, enquanto, o Engº Sócrates não pôs em evidência o programa de Governo do PSD, que não passa de uma réplica do PEC IV, que foi chumbado pelo Dr. Passos Coelho. No meu ponto de vista, isto explica a tentativa declarada do Engº Sócrates tentar conduzir o debate para as propostas do PSD, que no fundo, são iguais as propostas do PS, pois são as mesmas propostas que foram negociadas com o BCE e a CE, e depois rectificadas pela Troika. Mas com um detalhe, o PSD presume ir muito além do proposto pela Troika. Parece-me que o Dr. Passos Coelho terminou o debate com um ligeiro ascendente sobre o Engº José Sócrates, desta vez, o Dr. Passos Coelho foi mais firme, mais vigoroso e no final do debate transmitiu mais empatia. Opinião imediatamente corroborada por sondagem aos familiares que assistiram comigo ao debate em casa. Miguel Amaral Durante estas próximas semanas o tema dominante irá centrar-se nas eleições políticas portuguesas. Existem diversos exemplos na história económica que demonstram que uma mudança política durante um período de crise económica, normalmente, corresponde a uma melhoria do cenário económico e contribui para por fim a crise. Pois, os novos agentes políticos adoptam novos estilos de política económica que contribuem para o virar da página, e o superar da crise, iniciando um novo ciclo de crescimento económico.
No entanto, está situação em Portugal poderá não ser tão linear, não só, porque existe uma grande resistência à mudança, como há um conjunto de variáveis que não dependem de nós. É esta percepção de incerteza em relação ao futuro, conjuntamente, com a percepção de um elevado custo social que tem implícita a mudança, que induz a maioria dos eleitores a confiar o seu voto nas alternativas políticas que supostamente melhor conhecem e que em teoria menos ponham em causa os seus direitos adquiridos e que melhor defendam os seus interesses. Talvez, por essa razão, perante o cenário draconiano que se avizinha, os eleitores preferem concentrar os seus votos, naquelas soluções políticas, que normalmente, reúnem o maior consenso dos portugueses. Penso que o eleitorado talvez tenha mais sagacidade do que os próprios políticos, sabem que no fundo vai ser necessário um esforço e um sacrifício gigantesco, sabem que um só partido por si só, não vai ser capaz de desempenhar a tarefa com êxito. Intuem, que será necessário um consenso, o mais alargado possível, para que não possam existir mais desculpas para mais um fracasso político e económico no país. Os portugueses pretendem um Governo com o maior apoio parlamentar e social possível, que seja um sinal de demonstração de força para o exterior, para que desta vez tudo seja feito para salvar o país, pois esta pode bem ser a última oportunidade de sobrevivência. É a minha única explicação para umas sondagens tão equilibradas entre os dois maiores partidos portugueses. Miguel Amaral |